sexta-feira, 14 de junho de 2013

Uma postagem não habitual...

Quando idealizei este blog há algum tempo atrás, não cogitava a possibilidade de escrever sobre assuntos polêmicos, como política, por exemplo. Minha idéia inicial era ter um espaço onde eu pudesse simplesmente deixar fluir a criatividade e o desejo de voltar a escrever alguma coisa leve e descontraída. Não que eu não me interesse pelo assunto, mas o que queria mesmo era uma rota de fuga dos dramas cotidianos.
No entanto, não consegui não me manifestar frente a tudo que leio e vejo sobre as manifestações ocorridas em São Paulo nas últimas semanas. Não pretendo discutir aqui, especificamente, o aumento do custo do transporte público, mas tudo aquilo que realmente tem me ocorrido quando penso sobre o assunto.
Nunca fui contra protestos e manifestações, tampouco consigo achar negativo o fato de diferentes pessoas com diferentes estilos e modos de viver organizarem-se por uma causa, muito pelo contrário, acho de grande valia e cada vez mais necessário. Entretanto, sou contra atos que incitem a violência, seja por parte dos manifestantes ou do Estado, assim como sou contra o tratamento vil que a imprensa, de um modo geral, está dispensando à questão. Mas o que seria a maior violência, neste caso?
Pensando especificamente nessa questão propagada aos quatro ventos pela mídia - a violência -, passei a me questionar sobre o que estamos considerando, de fato, violência.
É muito fácil identificar como violentos atos nos quais há destruição física e material, seja de coisas ou pessoas. No entanto, quando penso em tudo a que estamos expostos todos os dias, não consigo me ater somente à essa violência explicita exibida todos os dias à exaustão. Quando penso em violências, as que mais me assustam são as que nos passam despercebidas, as que não nos chocam mais por estarem invisíveis ao nosso olhar.
O Estado não é violento somente quando reprime as manifestações, mas quando expõe a população a tanta falta. Violência, na minha opinião, é não ter comida no prato, é não ter o que vestir ou onde morar, é ter que esperar por mais de seis meses para conseguir uma consulta médica de 10 minutos (sendo bem otimista!) ou para fazer um exame que definirá a sua vida. É ficar amontoado nos corredores de hospitais como coisas ou ser reanimado no chão da sala de emergência por falta de macas ou leitos. É passar horas na fila da "farmácia do governo" pra ouvir que o remédio acabou. É não ter o mínimo acesso a uma educação decente e de qualidade e ser privado de cultura e lazer. É não poder andar tranqüilamente pelas ruas de sua cidade e achar normal ter medo de tudo e todos o tempo todo. É sentir-se desrespeitado todos os dias como cidadão, ouvindo propagandas enganosas na TV dizendo que o Governo dá remédio ou qualquer outra coisa "de graça" depois de trabalhar quase meio ano somente para pagar impostos. É receber esmola disfarçada com a desculpa de acabar com a pobreza sem receber as reais condições básicas necessárias para crescer, dentre tantas outras coisas. Somos brutalmente violentados diariamente e já não nos importamos.
O pior é saber que essas são as violências para as quais todos nós contribuímos, pelas quais somos todos responsáveis quando desperdiçamos nossos votos, quando fechamos os olhos para todos os deslizes dos nossos governantes, sejam eles de que partido ou ideologia forem; quando não nos organizamos nessas mesmas manifestações para exigir transparência e respeito, quando não fiscalizamos as contas publicas para as quais todos contribuímos, quando aceitamos passivamente o aumento dos salários dos cargos políticos e a redução do salário dos trabalhadores (como aconteceu com os professores de Juazeiro, por exemplo); enfim, quando abdicamos da nossa condição de cidadãos.
Quem saberia me dizer exatamente, mas exatamente mesmo, qual o montante arrecadado pelo governo (seja Municipal, Estadual ou Federal) em impostos? E como, exatamente, esse dinheiro é distribuído e gasto? E mais, quem arriscaria o próprio pescoço defendendo que os dados e informações que recebemos do governo hoje são totalmente fidedignos?
Confesso que eu mesma não tenho o hábito de buscar tais informações e reconheço que poderia ao menos tentar fazer a minha parte. Mas também me irrito profundamente com as pessoas que fingem que fazem, que se julgam mais politizadas que todas as demais e perdem seu tempo (e o meu!) defendendo partidos políticos que há muito deixaram de ser o que (ao menos acreditamos) foram um dia e não percebem que hoje são exatamente iguais na defesa dos próprios interesses e na não valorização dos interesses coletivos da população.
         Não importa qual partido político esteja no poder, a obrigação de um governante com seu povo não pode mudar com a mudança de partido, tem que ser sempre a mesma: garantir os direitos explícitos em nossa Constituição! Não quero um governo que lute pela defesa das ideologias de seu partido, mas um que garanta para a população as condições mínimas para se viver dignamente com  saúde, segurança, transporte, habitação, educação e comida na mesa!