domingo, 1 de abril de 2012

Uma apresentação


Alguém de vocês já leu Pollyana, de Eleanor H. Porter? Pois é, é por causa da garotinha resiliente do livro que me chamo Polianna. Acho que minha mãe planejava que eu fosse tão otimista e resignada quanto a menininha dessa história… Mas ela mudou a grafia do nome, talvez por isso não tenha dado muito certo, acabou que não sou assim tão otimista quanto a Pollyana original!
Sei que é chatice de minha parte, porém o hábito me faz ressaltar: Polianna com um “L”, “I” e dois “Ns”. O “L” e o “I” eu não sei bem porque, mas os dois “Ns” herdei de Dona Anna, minha avó, de quem herdei também a teimosia! Parece bobagem, mas como sempre tive que explicar, acabou por virar regra!
Tenho 33 anos, mas ainda me vejo uma menina… Chego a me espantar quando me olho no espelho e percebo a passagem do tempo… Não é que eu não goste do que vejo, nem medo de envelhecer, é só que ainda não me acostumei a me olhar assim, a autoimagem que ficou registrada em mim ainda é antiga!!!
Nasci em São Paulo, contudo fui morar no interior do estado com a minha família quando eu tinha nove anos. Não guardo grandes lembranças da minha infância em São Paulo, algumas apenas, então, é como se, quando criança, eu sempre tivesse vivido no interior, é lá que percebo minhas raízes. Penso que seja assim pelo fato de ser muito mais divertido ser criança no interior. Pelo menos no meu caso, a infância foi infinitamente mais livre e feliz lá do que em São Paulo. Acho que minha memória privilegiou as melhores lembranças!
Voltei a viver em São Paulo anos mais tarde, depois de formada, e hoje sou totalmente apaixonada por este lugar, mesmo conhecendo bem os seus problemas. Costumo brincar que este é um amor verdadeiro em minha vida, amo com todos os defeitos!
            Como a maioria dos paulistanos, trabalho muito. Trabalho com Cuidados Paliativos. Explicando em poucas palavras: cuido de pessoas que estão no final de suas vidas.
Não sei bem porque escolhi trabalhar com aqueles que estão mais próximos da finitude, independente de suas idades e biografias. Costumo dizer que não trabalho com morte e sim com vida até o momento da morte inevitável. Não ajudo as pessoas a morrerem, mas a viverem da melhor maneira no tempo que for possível… Auxilio na travessia, meio como Caronte, mas de modo delicado, tentando tornar esse último caminho o menos turbulento possível!
Não demorou muito para eu descobrir que, na verdade, são essas pessoas que me ajudam a viver e a definir minhas prioridades e as melhores escolhas para a minha vida. É por causa de tudo o que aprendo com elas que estou modificando e ampliando os meus caminhos e tornando incrível a minha viagem. São elas que me mostram a mágica grandeza das pequenas coisas do dia a dia, por mais piegas que possa parecer.
Passei muito tempo (apesar de ser novinha) me perdendo de mim. Passei muito tempo sem saber e sem querer saber quem eu era. Eu não fazia a menor idéia do que eu queria, do que eu gostava… Eu não sabia mais falar de mim, não sabia absolutamente nada sobre minha vida… Eu não sabia como me perceber…
Cor preferida? Fruta preferida? Alguma coisa preferida? Era como se eu tivesse adormecido por anos e anos e acordasse de repente… Era como se tudo fosse novo e desconhecido, inclusive eu mesma… Via-me no poema de Cecília: em que espelho teria ficado perdida a minha face? Terapia!
Foi difícil, mas, devagar, aprendi (e ainda estou aprendendo) a me sentir, me olhar, me perceber, me ouvir…
Hoje, enquanto escrevo, chove torrencialmente lá fora e foi impossível não notar o quanto adoro chuva! (Mas só quando estou em casa!) Sinto-me até meio egoísta, pois sei os estragos que essas chuvas causam, mas adoro temporais. Dão-me uma incompreensível sensação de prazer… Quando criança, gostava de ficar na varanda de casa vendo a dança das folhas soltas voando e perdendo-se no meio da ventania.
Nunca gostei de dias que já começavam nublados, mas sempre fiquei inexplicavelmente feliz quando escurecia no meio de um dia ensolarado. Adoro os barulhaços dos trovões e os clarões dos relâmpagos e apesar de ainda não saber responder por que, já consigo saber o quanto gosto!
Enfim, sou alguém tentando se descobrir e redescobrir! Já sei que sou uma mulher adulta que se acha uma menina, que andei perdida por um bom tempo (e fui resgatada!) e que gosto de chuva com ventos, relâmpagos e trovões!!! Acho que está bom para começar, não?

Um comentário: